segunda-feira, 18 de junho de 2012

FRANCISCANOS NA RIO+20 E NA CÚPULA DOS POVOS

Iniciou no último dia 15 de junho, no Rio de Janeiro, a Cúpula dos Povos por Justiça Social e Ambiental, Contra a Mercantilização da Vida e em Defesa dos Bens Comuns, processo paralelo à Conferência Mundial da Organização das Nações Unidas  sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20). A Cúpula acontece do dia 15 a 23 de junho, no Aterro do Flamengo, região central do RJ.

Franciscanos dos continentes europeu, africano, americano e asiático, de diversas ordens, congregações e instituições, entre religiosos(as) e leigos(as), realizaram, no bairro da Tijuca (onde estão hospedados), na manhã do dia 15, um encontro para a interação entre as culturas e a apresentação dos temas, conteúdos e programação correlacionados tanto no debate da Conferência da ONU – Rio+20, como da Cúpula dos Povos. Leia matéria completa, clicando no link abaixo.
De acordo com o diretor geral da Comissão Justiça, Paz e Integridade da Criação (JPIC), da Ordem dos Frades Menores (OFM), ao falar para o grupo, ele recordou que, como parte do carisma franciscano, o tema da ecologia, especificamente, o da justiça ambiental, tem se tornado  uma preocupação entre os franciscanos do mundo. Por isso, como família franciscana decidiram que seria de fundamental importância  a presença no Rio de janeiro para o evento da Cúpula dos Povos e do processo oficial da ONU, a Rio+20. “Estamos preocupados com as questões ambientais. Vivendo em uma crise. O nosso estilo de vida, de nos organizarmos economicamente e socialmente está criando muitos problemas para a mãe terra. Como franciscanos temos uma preocupação, com o nosso planeta  e com todas as criatura que Deus criou”, expressou.

A antropóloga e diretora do Instituto Brasileiro de análises Sociais e Econômicas (Ibase), Moema Miranda, foi convidada para contextualizar os franciscanos sobre o processo de construção da Cúpula dos Povos.  Ela explicou que a Cúpula e o Fórum Social Mundial (FSM) têm em comum o fato de que são espaços que surgem como provocação dos movimentos e organizações sociais que apontam uma alternativa expressada no ideal de que “um outro mundo possível”, frente às afirmações daqueles que defendiam o neoliberalismo e, hoje, impulsionam a implementação da Economia Verde como estratégia de “desenvolvimentos sustentável”.

Moema destaca que o FSM herda dos movimentos de esquerda a articulação e a pluralismo de lutas que não se perderam ao logo desses anos. “Nós não tínhamos a ideia do que acontecia nos outros países. Ainda éramos muitos “norte-sul” e as principais articulações eram realizadas no território europeu”. Para ela, com a realização do FSM foi quando se consolidou o conhecimento com o continente americano”.
Quando se percebeu que no processo de construção da Rio+20, as negocies estavam regredindo, especialmente, no que tange aos direitos e princípios assegurados pela ECO 92, Moema disse que os movimentos e organizações sociais se levantaram numa perspectiva de mobilizar a potencializar as discussões frente as temáticas e os interesses presentes na ONU, “ Hoje, não acreditamos que o processo oficial responda as reais necessidades dos povos, uma vez que as forças de poder que defendem a primazia do capital estão pautando as linhas das discussões”.

Embora o Brasil tenha registrado avanços significativos especialmente com o governo Lula e Dilma, a antropóloga considera que é preciso destacar as contradições existentes, na medida em que, eles defendem um modelo que “inclui” os pobres em programas sociais, mas mantêm e reproduzem os modelos produtivistas e consumistas atual.

“A Cúpula dos Povos tem como principal desafio refletir sobre um novo horizonte para um novo modelo de sociedade que se paute pelos princípios da Justiça Ambiental, de forma a reduzir e/ou  erradicar as desigualdades sociais tão marcantes em nossos dias”.

O frade franciscano e assessor da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Frei Rodrigo Peret,  é crítico com relação ao principal tema da Rio+20, que é a Economia Verde.  Ao fazer a critica, ele explica que a terra é um meio ambiente, composto por biomas, cultura, sociedade, religião, politica entre outros. A partir da cosmovisão franciscana, na natureza tudo correlacionado.   Todas as formas de vida e matéria se inter-relacionam. Péret exemplificou, essa afirmação, por meio do ciclo de vida de uma floresta. Um árvore produz o seu próprio alimento. Ela sintetiza a sua biomassa. Vai usar o elemento inorgânico dissolvido e a energia solar. Mas, ela elimina substância – o oxigênio. Produz massa morta e os animais a comem e, se cria uma base de cadeia alimentar. Para uma floresta natural existir é necessário um ciclo. Inter-relação com os seres vivos inorgânicos e meio que interage. “A Economia Verde chama esses ciclos naturais de serviços que a natureza presta e dos quais, nós, seres humanos, nos serviços para o bem estar e que este serviços, devem ser revestidos de um valor econômico para se garantir o manejo e o cuidado ao meio ambiente. O capital que se apossa do ciclo vital que acontece dentro do ecossistema e transforma essa relação em ativos financeiros. A dinâmica da vida agora vai ter um valor. Isso é fruto da compreensão da “economia dos ecossistemas e suas biodiversidades”, já discutida na Eco92.

Péret explica que para a Economia Verde, a natureza é o capital, o ecossistema é o estoque do capital e o valor é dado pelo fluxo futuro desses serviços ambientais.  Da Eco 92 à 2012, as decisões relacionadas ao meio ambiente foram saindo das mãos dos Estados/Nações e passaram para as mãos das corporações. Ele exemplifica essa afirmação ao constatar os mecanismos de instrumentos limpos, que possibilitou o mercado de carbono.

“Todo o desenvolvimento sustentável se tornou uma indústria de compensação. Existe todo um mercado de selo verde. Na verdade, a economia já se esverdeou, enquanto mercado. O capital já tem uma série de instrumentos regulatórios. A economia verde é a excelência do capitalismo. Em nosso pensamento franciscano, a natureza tem um valor em si. Temos que pregar esta ideia. Temos que reforçar a dignidades da natureza, da qual fazemos parte e o diálogo sobre as outras alternativas de forma de vida que se perderam com o capitalismo, como o conceito de Pacha Mama, do bem viver e o do decrescer.

Frei Rozasky reforçou que o mais importante para os franciscanos nessa participação da Rio+20 e Cúpula é conhecer o conteúdo dos debates para que cada um, ao retornar para os seus países, tenham a capacidade e o instrumento para promover a discussão  sobre a justiça ambiental. “Queremos ajudar na formação de todas as pessoas com quem trabalhamos a apontar ações concretas que podemos tomar para enfrentar a crise que estamos passando. Rozasky concluiu afirmando que, como família franciscana temos a certeza que nossa tradição tem algo para oferecer ao mundo no enfrentamento da crise e, por isso, estamos já pensando como vamos nos organizar pós Rio+20”.

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